terça-feira, dezembro 30

Desejo para este ano


"Um grupo de jovens licenciados, todos bem sucedidos nas carreiras, decidiram fazer uma visita a um velho professor da faculdade, agora reformado. Durante a visita, a conversa dos jovens alongou-se em lamentos sobre o imenso stresse que tinha tomado conta das suas vidas e do seu trabalho. O professor não fez qualquer comentário sobre isso e perguntou se gostariam de tomar uma chávena de chocolate quente. Todos se mostraram interessados e o professor dirigiu-se à cozinha, de onde regressou vários minutos depois com uma grande chaleira e uma grande quantidade de chávenas, todas diferentes - de fina porcelana e de rústico barro, de simples vidro e de cristal, umas com aspecto vulgar e outras caríssimas. Apenas disse aos jovens para seservirem à vontade. Quando já todos tinham uma chávena de chocolate quente na mão, disse-lhes- Reparem como todos escolheram as chávenas mais bonitas e dispendiosas, deixando ficar as mais vulgares e baratas... Embora seja normal que cada um pretenda para si o melhor, é isso a origem dos vossos problemas e stresse. A chávena por onde estais a beber não acrescenta nada à qualidade do chocolate quente. Na maioria dos casos é apenas uma chávena mais requintada e algumas nem deixam ver o que estais a beber. O que vós realmente queríeis era o chocolate quente, não a chávena; mas fostes conscientemente para as chávenas melhores...Enquanto todos confirmavam, mais ou menos embaraçados, a observação do professor, este continuou:- Considerai agora o seguinte: a vida é o chocolate quente; o dinheiro e a posição social são as chávenas. Estas são apenas meios de conter e servir a vida.A chávena que cada um possui não define nem altera a qualidade da vossa vida. Por vezes, ao concentrarmo-nos apenas na chávena acabamos por nem apreciar o chocolate quente que Deus nos ofereceu. As pessoas mais felizes nem sempre têm o melhor de tudo, apenas sabem aproveitarao máximo tudo o que têm. Vivei com simplicidade. Amai generosamente. Ajudai-vos uns aos outros com empenho. Falai com gentileza. E apreciaio vosso chocolate quente."

quarta-feira, dezembro 24

Quando é Natal...




Natal é Promessa cumprida, é realização da Esperança,...

Natal é Deus a habitar em cada um de nós!

Quando é o nosso Natal?

sexta-feira, dezembro 12

Refrendo sobre a eutanásia?


Ontem tive uma runião de Bioética e cuidados paliativos e este tema foi tocado de uma forma profunda e esclarecedora e por quem mais sabe: os dois pais da Bioética em Portugal Dr. Jorge Biscaia e Pe. Vasco Pinto de Magalhães e pela Dr. Edna, responsável pelo núcleo de Cuidados Paliativos do Hospital de S. João.É que de facto é preciso ir a fundo nestas questões, saber como está a realidade dos cuidados paliativos em Portugal nas fontes certas. Achei curioso um dado estatistico acerca da opinião dos médicos de cuidados paliativos referindo-se a uma população de 400 médicos, quando em Portugel nem 100 existem. De facto temos de ter cuidado com as estatísticas e com a infomrção que circula nos mass media, neste tem, como em tantos outros. É importante ter espírito crítico em relação à informação que nos chega e pensar a fundo nas coisas.Como estão os cuidados paliativos em Portugal? (ainda há bem pouco tempo começaram a existir) Que se tem feito para os melhorar? O que são os cuidados paliativos? Sim ou não à eutanásia é uma questão que se coloca?Há uma frase que a mim me toca profundamente quando falamos de bioética: a moral, a ética, a vida, o justo e a luta pelos direitos das pessoas não pode ser decidido por números, por quantos estão a favor e quantos contra.

quarta-feira, dezembro 10

60 anos depois...


(infelizmente) continuamos a sonhar com a utopia...

domingo, novembro 30




É linda, não é???

sábado, novembro 29

Acabadinha de fazer, esta é a minha arvore de natal 2008!!
Talvez porque estou desejosa que o espírito de Natal chegue ao coração das pessoas que a partilho convosco…e deixo aqui o meu pedido que espero que não seja mais uma utopia não comprida:
“dias de felicidade e muitos sorrisos para todos, todos o ano(toda a vida)!!”

Sejam felizes :)

domingo, novembro 23

Há quanto tempo não canto


HÁ QUANTO tempo não canto
Na muda voz de sentir.
E tenho sofrido tanto
Que chorar fora sorrir.

Há quanto tempo não sinto
De maneira a o descrever,
Nem em ritmos vivos minto
O que não quero dizer...

Há quanto tempo me fecho
À chave dentro de mim.
E é porque já não me queixo
Que as queixas não têm fim.

Há quanto tempo assim duro
Sem vontade de falar!
Já estou amigo do escuro
Não quero o sal nem o ar.

Foi-me tão pesada e crescida
A tristeza que ficou
Que ficou toda a vida
Para cantar não sonhou.
Fernando Pessoa

quinta-feira, novembro 13

Sim, creio

Hoje,
na noite do mundo e na esperança da Boa Nova,
eu afirmo com audácia minha fé no futuro da humanidade.

Recuso crer que as circunstâncias actuais
tornem os homens incapazes de fazer uma terra melhor.
Recuso crer que o ser humano
não seja mais do que um boneco de palha agitado pela corrente da vida,
sem ter a possibilidade de influir minimamente no curso dos acontecimentos.
Recuso-me a partilhar a opinião dos que pretendem
que o homem está de tal maneira prisioneiro da noite sem estrelas,
da guerra e do racismo,
que a aurora luminosa da paz e da fraternidade não possa nunca tornar-se realidade.
Recuso fazer minha a predição cínica
daqueles que dizem que os povos mergulharão, um após outro,
no turbilhão do militarismo, até o inferno da destruição termonuclear.

Eu creio que a verdade e o amor incondicionais
terão efectivamente a última palavra.
A vida, ainda que provisoriamente derrotada,
é sempre mais forte que a morte.
Eu creio firmemente que,
mesmo no meio das bombas que explodem e dos canhões que troam,
permanece a esperança de um amanhã radioso.
Ouso crer que, um dia, todos os habitantes da terra
poderão receber três refeições por dia para a vida de seu corpo,
a educação e a cultura para a saúde de seu espírito,
a igualdade e a liberdade para a vida de seus corações.
Creio, igualmente, que um dia toda a humanidadereconhecerá em Deus a fonte do seu amor.
Creio que a bondade salvadora e pacífica um dia será lei.
O lobo e o cordeiro poderão repousar juntos,
todo homem poderá sentar-se sob a sua figueira, na sua vinha
e ninguém terá motivo para ter medo.
Creio firmemente que triunfaremos.

Martin Luther King

quarta-feira, novembro 5

“ A vida está em todas e cada uma das coisas.
Basta abrir a porta e deixar que se revele.”

Maria Parrato

Todas as portas que vemos são possíveis realidades de nós, pessoas diferentes que nos podemos tornar!!!
Porém a porta que escolhemos é aquela que nós traz a realidade tal como ela é: bonita e feia, honesta e desonesta, fiel aos nossos sonhos ou nem por isso….. Mas ao escolhermos por mais difícil que seja estamos a viver a caminhar a experienciar na busca da nossa utopia!!!
Sejamos corajosos de descobrir o que esta atrás de cada porta!!!

segunda-feira, novembro 3

Para onde caminhamos??

sexta-feira, outubro 31

Ser Igreja

Na Igreja faltam os afectos!

Era mais ou menos isto que António Couto, bispo auxiliar de Braga, dizia ontem no primeiro Encontro com S. Paulo, em Guimarães.

Isto leva-nos a pensar sobre que Igreja somos?!

Onde paira o carisma que moveu a Igreja primitiva e que levava os pagãos a admirarem-se: Vede com eles se amam!

Como é possível que num espaço que se supõe a vivência da Comunhão, não existam afectos?

Afinal, o que é a Igreja, situada no aqui e agora históricos?

Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos:
se vos amardes uns aos outros! (Jo 13,35)

terça-feira, outubro 28

Já era tempo de parar


No silêncio das árvores
Ainda há
O agitar dos ramos
Movidos pelo vento…
No silêncio das águas,
Ainda há
O cantar da correnteza
Atravessando as pedras…
No silêncio dos céus,
Ainda há
O cintilar das estrelas
Carregado de mensagens…

Aprende que não basta não falar
Para atingires o silêncio.

Enquanto os cuidados te agitam,
Ainda não penetraste
Na área do grande silêncio.
E aí, somente aí,
Se escuta a voz de Deus!

D. Hélder Câmara

quarta-feira, outubro 22

A propósito de sonhar...

"...se desistirmos de sonhar e trabalhar por um mundo em que não haja uns à mesa e outros à porta, é porque celebramos a Eucaristia em vão."
Frei Bento Domingues

quinta-feira, outubro 16

If it be your will



If it be your will
That I speak no more
And my voice be still
As it was before
I will speak no more
I shall abide until
I am spoken for
If it be your will

If it be your will
That a voice be true
From this broken hill
I will sing to you
From this broken hill
All your praises they shall ring
If it be your will
To let me sing

From this broken hill
All your praises they shall ring
If it be your will
To let me sing

If it be your will
If there is a choice
Let the rivers fill
Let the hills rejoice
Let your mercy spill
On all these burning hearts in hell
If it be your will
To make us well

And draw us near
And bind us tight
All your children here
In their rags of light
In our rags of light
All dressed to kill
And end this night
If it be your will
If it be your will
.

Leonard Cohen

quarta-feira, outubro 8

A pressa

A lentidão da nossa vida é tão grande que não nos consideramos velhos aos quarenta anos. A velocidade dos veículos retirou a velocidade às nossas almas. Vivemos muito devagar e é por isso que nos aborrecemos tão facilmente. A vida tornou-se para nós uma zona rural. Não trabalhamos o suficiente e fingimos trabalhar demasiado. Movemo-nos muito rapidamente de um ponto onde nada se faz para outro onde não há nada que fazer, e chamamos a isto a pressa febril da vida moderna. Não é a febre da pressa, mas sim a pressa da febre. A vida moderna é um lazer agitado, uma fuga ao movimento ordenado por meio da agitação.

Fernando Pessoa

quarta-feira, outubro 1

E o futuro...



... é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...


segunda-feira, setembro 15

A esperança da utopia

Eu voltarei a cantar
O amor e a esperança
Eu voltarei a cantar
Os caminhos para a paz


Quando os frios chegarem
As flores morrerão
Mas com a Primavera
De novo renascerão
Talvez me vejas chorar
Quando um amigo parte
A morte leva-me os meus
Mas eu sei que voltarão

Talvez me vejas morrer
Talvez me vejas partir
Não chores se és amigo
Voltar-me-ás a encontrar
Não sei onde nem quando
Mas será num lugar
Onde não haja grades
E onde possa cantar


Eu voltarei a cantar
O amor e a esperança
Eu voltarei a cantar
Os caminhos para a paz

domingo, setembro 7

Quanto farisaísmo ainda fareja por aí!

Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque fechais aos homens o Reino do Céu! Nem entrais vós nem deixais entrar os que o querem fazer.
Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, que devorais as casas das viúvas, com o pretexto de prolongadas orações! Por isso, sereis mais rigorosamente julgados.
Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito e, depois de o terdes seguro, fazeis dele um filho do inferno, duas vezes pior do que vós!
Ai de vós, guias cegos, que dizeis: ‘Se alguém jura pelo santuário, isso não tem importância; mas, se jura pelo ouro do santuário, fica sujeito ao juramento.’ Insensatos e cegos! Que é o que vale mais? O ouro ou o santuário, que tornou o ouro sagrado? Dizeis ainda: ‘Se alguém jura pelo altar, isso não tem importância; mas, se jura pela oferta que está sobre o altar, fica sujeito ao juramento.’ Cegos! Qual é o que vale mais? A oferta ou o altar, que torna sagrada a oferta? Portanto, jurar pelo altar é o mesmo que jurar por ele e por tudo o que está sobre ele; jurar pelo santuário é jurar por ele e por aquele que nele habita; jurar pelo Céu é jurar pelo trono de Deus e por aquele que nele está sentado.
Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque pagais o dízimo da hortelã, do funcho e do cominho e desprezais o mais importante da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade! Devíeis praticar estas coisas, sem deixar aquelas. Guias cegos, que filtrais um mosquito e engolis um camelo!
Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque limpais o exterior do copo e do prato, quando por dentro estão cheios de rapina e de iniquidade! Fariseu cego! Limpa antes o interior do copo, para que o exterior também fique limpo.
Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque sois semelhantes a sepulcros caiados: formosos por fora, mas, por dentro, cheios de ossos de mortos e de toda a espécie de imundície!
Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade.
Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, que edificais sepulcros aos profetas e adornais os túmulos dos justos, dizendo: ‘Se tivéssemos vivido no tempo dos nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos profetas!’ Deste modo, confessais que sois filhos dos que assassinaram os profetas. Acabai, então, de encher a medida dos vossos pais! Serpentes! Raça de víboras! Como podereis fugir à condenação da Geena?
Mt 23, 13-29
"Quem tiver ouvidos que ouça"

domingo, agosto 17

A morte do irmão Roger: porquê?


Em muitas mensagens que recebemos em Agosto de 2005, a morte do irmão Roger foi comparada à de Martin Luther King, à do arcebispo Oscar Romero ou à de Gandhi. Contudo, não podemos negar que também há uma diferença. Eles encontravam-se num combate de origem política, ideológica, e foram assassinados por adversários que não podiam suportar a sua opinião e a sua influência.

Muitos dirão que é inútil procurar uma explicação para o assassinato do irmão Roger. O mal faz malograr sempre qualquer explicação. Um justo do Antigo Testamento dizia que era odiado «sem razão», e São João pôs esta afirmação na boca de Jesus: «Odiaram-me sem razão.»

No entanto, tendo vivido próximo do irmão Roger, marcou-me sempre um aspecto da sua personalidade e pergunto-me se isso não explica o facto de ter sido ele o visado. O irmão Roger era um inocente. Não no sentido de não ter tido falhas. O inocente é alguém para quem as coisas têm uma evidência e uma instantaneidade que não têm para os outros. Para o inocente, a verdade é evidente; não depende de argumentações. Ele como que a «vê» e tem dificuldade em aperceber-se de que outras pessoas têm um acesso mais laborioso a ela. O que diz parece-lhe simples e claro e admira-se que haja pessoas para quem não seja assim. Compreendemos facilmente que frequentemente se encontra desarmado ou se sente vulnerável. Porém, em geral a sua inocência não tem nada de ingénuo. Para ele, o real não tem a mesma opacidade que para os outros. Ele «vê através».

Tomo como exemplo a unidade dos cristãos. Para o irmão Roger, era evidente que, se essa unidade é desejada por Cristo, deve poder ser vivida sem demoras. Os argumentos que se lhe opunham deviam parecer-lhe artificiais. Para ele, a unidade dos cristãos era antes de tudo uma questão de reconciliação. E, no fundo, ele tinha razão, pois nós perguntamo-nos demasiado pouco se estamos dispostos a pagar o preço dessa unidade. Será que uma reconciliação que não sintamos na própria pele ainda merece esse nome?

Havia quem dissesse que o irmão Roger não tinha um pensamento teológico. Mas será que ele não via mais claro do que aqueles que afirmavam isso? Há séculos que os cristãos têm necessidade de justificar as suas divisões. Tornaram artificialmente maiores as oposições. Sem se aperceberem, entraram num processo de rivalidade e não compreenderam a evidência deste fenómeno. Não «viram através». A unidade parecia-lhes impossível.

O irmão Roger era um homem realista. Tinha em conta o que permanece irrealizável, sobretudo do ponto de vista institucional. Mas não podia parar aí. Essa inocência dava-lhe uma força de persuasão muito especial, uma espécie de mansidão que nunca se dava por vencida. Até ao fim, viu a unidade dos cristãos como uma questão de reconciliação. E a reconciliação é um passo que todo o cristão pode dar. Se efectivamente todos dessem esse passo, a unidade estaria à mão de semear.

Havia outra área onde esta característica do irmão Roger se fazia sentir e onde se via talvez ainda melhor a sua personalidade, com tudo o que ela tinha de radical: tudo o que podia fazer surgir uma dúvida a respeito do amor de Deus era-lhe insuportável. Aqui tocamos nessa compreensão muito imediata das coisas de Deus. Não significa que ele se recusasse a reflectir, mas ressentia em si mesmo de forma muito forte que uma certa linguagem que pretende ser justa – por exemplo sobre o amor de Deus – na realidade ofusca o que pessoas menos advertidas esperam desse amor.

Se o irmão Roger insistiu muito sobre a bondade profunda do ser humano, isso deve ser visto na mesma perspectiva. Ele não tinha ilusões sobre o mal. Por natureza, era tendencionalmente vulnerável. Mas tinha a certeza de que, se Deus ama e perdoa, então recusa recordar o mal. Todo o verdadeiro perdão desperta o que há de mais profundo no coração humano, esse fundo que é feito para a bondade.

Paul Ricoeur foi tocado por esta insistência na bondade. Disse-nos um dia em Taizé que via aí o sentido da religião: «Libertar o fundo de bondade dos homens, ir procurá-lo aonde estiver completamente enterrado.» No passado, houve uma certa prédica cristã que insistia continuamente na natureza humana essencialmente má. Fazia isso para salientar a gratuidade pura do perdão. Mas afastou muita gente da fé; mesmo se ouviam falar do amor, tinham a impressão de que esse amor mantinha reservas e de que o perdão anunciado não era total.

O que há de mais precioso na herança que nos deixou o irmão Roger encontra-se talvez nisso: esse sentido do amor e do perdão, duas realidades que tinham para ele uma evidência e que ele compreendia com uma instantaneidade que muitas vezes nos escapava. Nessa área, ele era verdadeiramente inocente, sempre simples, desarmado, lendo no coração dos outros, capaz de uma confiança extrema. O seu bonito olhar traduzia isso. Se se sentia tão bem quando estava rodeado por crianças, era porque elas vivem as coisas com a mesma instantaneidade; não podem proteger-se e não podem acreditar no que é complicado; o seu coração vai direito ao que as toca.

A dúvida nunca esteve ausente para o irmão Roger. Era por isso que ele gostava das palavras: «Não deixes que as minhas trevas me falem!» Porque as trevas eram insinuações da dúvida. Mas esta dúvida não atingia a evidência com que ele ressentia o amor de Deus. Essa dúvida até talvez exigisse uma linguagem que não deixasse subsistir nenhuma ambiguidade. A evidência de que falo não se situava a um nível intelectual, mas era mais profunda, ao nível do coração. E, como tudo o que não pode ser protegido por uma argumentação forte ou certezas bem construídas, essa evidência era necessariamente frágil.

Nos Evangelhos, a simplicidade de Jesus incomodava. Alguns ouvintes de Jesus sentiram-se postos em causa. Era como se o pensamento dos seus corações fosse revelado. A linguagem clara de Jesus e a sua forma de ler os corações constituía uma ameaça para eles. Um homem que não se deixa fechar em conflitos torna-se perigoso para alguns. Esse homem fascina, mas esse fascínio pode facilmente tornar-se hostilidade.

O irmão Roger fascinou certamente pela sua inocência, pela sua percepção imediata, pelo seu olhar. E penso que ele viu nos olhos de algumas pessoas que o fascínio se podia transformar em desconfiança ou em agressividade. Para uma pessoa que carrega conflitos insolúveis, essa inocência pode tornar-se insuportável. E nesses casos não basta insultar essa inocência. É preciso eliminá-la. O Doutor Bernard de Senarclens escreveu: «Se a luz é demasiado forte (e penso que o que brotava do irmão Roger podia deslumbrar) nem sempre é fácil suportá-la. Então só resta a solução de apagar essa fonte luminosa, suprimindo-a.»

Quis escrever esta reflexão, pois ela permite fazer realçar um aspecto da unidade da vida do irmão Roger. A sua morte pôs misteriosamente um selo naquilo que ele sempre foi. Pois ele não foi morto por causa do que defendia. Foi morto por causa do que era.

Irmão François, de Taizé


Fonte: Site da Comunidade de Taizé

quinta-feira, julho 31

RETRATO DE UMA PRINCESA DESCONHECIDA



RETRATO DE UMA PRINCESA DESCONHECIDA

Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino

Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, julho 14

A fé

“- Podia, por favor, dizer-me qual o caminho que devo seguir para sair daqui?

- Depende muito de onde queres ir – respondeu o Gato.

- Isso é-me indiferente, disse Alice.

- Então não importa o caminho que sigas – disse o Gato.

- …desde que vá ter a algum lado – acrescentou Alice, a modo de explicação.

- Ah! De certeza que vais conseguir.- disse o Gato – se andares o suficiente.”

(L. Carroll)

sexta-feira, julho 4

De não saber o que se espera...


Ultimamente esta música não me sai da cabeça...
deve ser por não saber o que me espera.

De nao saber o que me espera
Tirei a sorte à minha guerra
Recolhi sombras onde vira
Luzes de orvalho ao meio-dia
Vítima de só haver vaga
Entre uma mão e uma espada
Mas que maneira bicuda
De ir à guerra sem ajuda
Viemos pelo sol nascente
Vingamos a madrugada
Mas nao encontramos nada
Sol e àgua sol e àgua
De linhas tortas havia
Um pouco de maresia
Mas quem vencer esta meta
Que diga se a linha é recta...

Zeca Afonso

terça-feira, julho 1

! La resignacion Es Un Suicidio Permanente ! *

Sê Solidário Com os Imigrantes Ilegais! Assina a Petição ; )

Nos dias de hoje, a imigração é uma das principais questões na ordem do dia da União Europeia. Em breve o Parlamento Europeu começará a debater uma proposta de directiva que estabelece 'Normas e procedimentos comuns nos Estados-Membros para o regresso de nacionais de países terceiros em situação irregular'.

A proposta de directiva é aplicável a todos os nacionais de países terceiros em situação irregular num dos Estados-Membros e não tem em conta as causas desse estatuto irregular. O conteúdo da proposta deixa entrever claramente que a Comissão adoptou uma abordagem repressiva relativamente à regulação do 'fenómeno da migração', concentrando-se na 'luta contra a imigração ilegal'.

A proposta inclui muitos pontos discutíveis. Gostaríamos especialmente de destacar a institucionalização da detenção administrativa em centros de detenção temporária. A legislação em apreço permitiria alargar a detenção a um prazo máximo de seis meses.

As condições nos centros de detenção de migrantes são muito idênticas às das prisões, e por vezes mesmo piores. Na sequência de visitas a centros de detenção, organizações não governamentais, agências internacionais, delegações parlamentares e jornalistas denunciaram a iniquidade, desumanidade e degradação desses lugares, onde os direitos humanos e as liberdades fundamentais são muitas vezes violados e se usa de violência contra os migrantes.

A detenção administrativa é absurda do ponto de vista jurídico, pois aplica sanções penais (detenção) a infracções administrativas, como a entrada ilegal em território nacional ou a simples expiração de vistos e títulos de residência.

Uma vez que a 'detenção administrativa temporária' é prorrogável até um limite máximo de seis meses, deixa de poder ser definida como 'temporária'. Este instrumento não tem capacidade para controlar a migração ilegal e, além disso, não é eficaz em matéria de identificação dos migrantes.

Os centros de detenção são frequentemente estruturas de administração duvidosa, e muitas vezes é recusado o acesso aos mesmos por parte de organizações de defesa dos direitos humanos e dos migrantes. A directiva propõe que as visitas sejam autorizadas pelos Estados-Membros.

Nos 25 Estados-Membros existem 178 centros de detenção e, além disso, foram construídos outros centros nos países candidatos e nos países vizinhos.

Na perspectiva do debate parlamentar, que deverá ter início dentro de poucos meses, gostaríamos de conduzir - juntamente com as organizações que se dedicam a esta questão - uma campanha europeia a favor do encerramento de todos os centros de detenção de migrantes situados na Europa.

Para contribuir para a campanha ou simplesmente aderir (organizações ou indivíduos), queira preencher e enviar o formulário que se encontra na seguinte página da Internet :
http://www.no-fortress-europe.eu/showPage.jsp?ID=2576&LANG=9&ISSUE=0&POPUP=0

As assinaturas recolhidas serão transmitidas aos governos da UE e à Comissão Europeia com vista a demonstrar que as pessoas e a sociedade civil reivindicam claramente o encerramento dos centros de detenção temporária em toda a Europa.

quarta-feira, junho 18

Sermão de 4ª Feira de Cinzas

"... homenzinhos miseráveis, loucos, insensatos, não vedes que sois mortais? Não vedes que haveis de acabar amanhã? Não vedes que vos hão-de meter debaixo de uma sepultura, e que de tudo quanto andais afanado, e adquirindo, não haveis de lograr mais que sete pés de terra?"

Padre António Vieira

domingo, junho 15

Sugestão de leitura

Deixo-vos aqui a sugestão de um livro, cuja leitura ainda não terminei, mas que considero sublime. Tem um encanto tremendo porque fala do amor, nas suas diferentes expressões, fala da coragem e determinação de alguns homens em concretizarem os seus sonhos. É fascinante porque nos traduz em palavras amenas o melhor e o pior dos seres humanos. Para mim o maior ensinamento surge-me através da leveza e da brutalidade da personalidade dos homens de bom coração.

Este livro é sobre o sonho de um homem que nas suas palavras traduz o sonho de todos nós e é com deleite inteligente que folheio cada página.




“Um romance que é um poderoso e apaixonante instrumento de reflexão sobre o futuro da Cristandade e da consciência religiosa no mundo.”

segunda-feira, maio 19

sábado, maio 17

O mundo de todos... mas só para alguns

Recomendaram-me este site...




Fala sobre a triste realidade da destruição do nosso mundo e da exploração dos recursos do nosso planeta. Tem uma apresentação rápida (cerca de 20 minutos) e com muita piada acerca do ciclo de produção, consumo e despejo nos Estados Unidos (o Europeu é um pouco melhor mas não deixa de ser mau). Vejam porque dá para aprender umas coisas. É importante perceber porque é que é necessário mudar e quais são os riscos de não o fazer.

sábado, maio 10

" apesar das ruínas e da morte,
onde sempre acabou cada ilusão,
a força dos meus sonhos é tão forte,
que de tudo renasce a exaltação
e nunca as minhas mãos ficam vazias. "
Sophia de Mello Breyner

Solo le pido a Dios



... desahuciado está el que tiene que marchar
a vivir una cultura diferente...

quinta-feira, maio 8

Vamos pedir o impossível !


“Os Vendedores de Sapatos na Índia”

Conta-se que uma empresa de calçado resolveu enviar dois vendedores para a Índia para realizarem um estudo de mercado sobre a possibilidade de expandirem seus negócios por aquelas paragens...Após sondar o cenário local um dos vendedores enviou um e-mail para à empresa: “cancelem o envio de sapatos, pois aqui na Índia ninguém usa sapatos".O segundo vendedor também enviou um e-mail: “Tripliquem o envio de sapatos, pois aqui na Índia ainda ninguém usa sapatos”A mesma situação que para um era motivo de crise, para o outro era uma excelente oportunidade de crescimento...
Só nos podemos tornar o sonho realidade. Também nós vamos ser realistas e pedir o impossível.

terça-feira, maio 6

Ideia


Não há nada mais prático do que uma boa ideia. Uma boa ideia não é apenas algo de interessante que nos vem à cabeça, mas é, sobretudo, um propósito que nos leva a fazer o bem e a querer ser bons. Há pessoas que ficam a discutir ideias até se desgastarem. E há outras que procuram confrontar as suas ideias na acção para mudar o mundo.

Vasco Pinto de Magalhães sj, in 'Não Há Soluções, Há Caminhos'

segunda-feira, maio 5

Ver


"Li ontem uma coisa que nunca me tinha dado conta. Que para o ser humano é tão espontâneo proteger o rosto com as mãos quando qualquer coisa vem na nossa direcção, como estender a mão se alguém cai ao nosso lado. Temos uma espécie de instinto que nos protege e que protege os outros. Acredito que o ser humano é fundamentalmente bom e feito para ajudar os outros. E depois surgem tantas questões de como o egoísmo bloqueia o que é mais natural em nós. E isso magoa mais, porque temos consciência de que não estendemos as mãos e até provocamos as quedas. O que se poderia fazer para sermos mais espontâneos de coração, como dizer e explicar que temos uma capacidade natural para o bem? Seria bom agradecer os gestos que fazemos, procurar te-los como uma marca autêntica do que somos, sem olhar a ressentimentos e cálculos de perder e ganhar."

António Valério, sj


Este texto mexeu mesmo comigo...não sei dizer...é daquelas coisas que mais me surpreende é ver que há coisas tão obvias que estão bem em frente aos meus olhos mas não as vejo. Faz-me lembrar as minhas aulas em que aprendo tanta coisa, mas não vejo como por na minha vida esse conhecimento. Parecem barcos à solta que não sabem onde lançar as redes. Mais do que conhecimento anseio por sabedoria.

Ressuscitou!!


Aleluia...ressuscitou! O tão sonhado blog voltou à vida e com ele a fé nos sonhos que traçamos. Que sejam para vencer ou pelo menos para lutar. Às vezes não importa muito a meta, mas o caminho para ela.
A verdade é que já lá vão alguns anos desde que nos conhecemos, estamos diferentes. E os nossos sonhos? Será que nos acomodamos com a idade ou ainda mexe cá dentro a fé que nos caracterizou um dia?
Vou sonhando por aqui!

quinta-feira, maio 1

Reviver a utopia


Têm-me pedido para revitalizar este espaço! E estive a pensar se seria boa ideia, visto que o seu dinamismo foi-se perdendo, e eu, que o criei, contribui para isso.
No entanto, sentido a vontade de alguns em que se faça renascer o Sonhando a Utopia, assumo este sonho de construir a Utopia, ainda que pareça impossível de a viver.
Meus amigos, vocês que me ajudaram a construir este sonho, a vós me junto para (re)criarmos o "Mundo outro".