"O que é o ser humano? É um ser de abertura. É um ser concreto, situado, mas aberto. É um nó de relações, voltado em todas as direcções. Só comunicando-se, realizando essa transcendência concreta na comunicação, ele se constrói a si mesmo. Só saindo de si que fica em casa. Só dando de si que recebe.Ele é um ser em potencialidade permanente, um ser utópico. Sonha para além daquilo que é dado e feito. E sempre acrescenta algo ao real. Por isso, ele cria símbolos, cria projecções, cria sonhos. Essa capacidade é o que nós chamamos de transcendência, isto é, transcende, rompe, vai para além daquilo que é dado. Numa palavra, eu diria que o ser humano é um projecto infinito.Creio que a transcendência é, talvez, o desafio mais secreto e escondido do ser humano. Ele recusa-se a aceitar a realidade na qual está mergulhado porque é mais do que ela e sente-se maior do que tudo o que o cerca. Com o seu pensamento ele habita as estrelas e rompe todos os espaços. Não há nada que possa enquadrar o ser humano, nem mesmo o nosso moderno sistema globalizado, dentro do pensamento único que afirma ‘não há alternativa para ele’. Essa concepção supõe um conceito pobre do ser humano, não interessado em formar um cidadão criativo, capaz de pensar por si. Está interessado em gerar consumidores, agalinhados em seus poleiros, perdidos da sua identidade de serem águias. Em nome da nossa transcendência, protestamos contra esse modo de realizar o processo de globalização que, em si, representa um patamar novo da história humana.A transcendência dá ao ser humano uma imensa liberdade. Liberdade, pelo menos, de protestar e de se insurgir. Olhem ao redor e vejam os sistemas que nos querem impingir hoje. Na educação, na família, na escola, nas religiões. Não nos deixemos mediocrizar, mantenhamos a nossa grandeza, a nossa capacidade de voar, a nossa capacidade de transcendência.”
Leonardo Boff
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