segunda-feira, setembro 13

Sejamos realistas (se é possível)...

Sejamos realistas (se é possível)...
O mundo (ou melhor, os que nele mandam) não quer utopias. A utopia só interessa a meio mundo (oh! antes fosse só meio....): a parte que vive mal. Se todos os que vivem bem estivessem interessados em utopias, o mundo estava muito melhor... e o pior é que todos nós compactuamos na lassidão instalada.
Faz parte do ser humano: só reclamo enquanto eu estiver mal - a partir do momento em que o
meu problema esteja resolvido, cabe aos outros reclamarem por eles. Falta-nos pensar em grupo; foi precisamente a pensar em grupo que o homem conseguiu prosperar. Quando os primeiros hominídeos concluíram que, se trabalhassem em grupo, conseguiriam fazer o trabalho (na altura, obter alimento) de maneira muito mais eficiente, mesmo sem o saberem, deram o primeiro passo em direcção ao bem comum. Mas há muitos mais animais a partilhar essa capacidade de agir em grupo, alguns deles com a noção de "comunidade" embutida na sua herança genética. Porém, o homem fê-lo de maneira cada vez mais inteligente - o crescimento das suas capacidades acompanhou sempre a vida em comunidade - o homem é, então, uma criatura social, um animal que sabe tirar vantagens da vida em comunidade, mantendo ao mesmo tempo a sua identidade. A democracia pode ser vista como uma prova (apesar de muito imperferfeita, no seu estado actual) de que o ser humano consegue equilibrar os interesses da comunidade com os seus.
Sem querer entrar em políticas (a política, como a religião, tem a ver com a vida em comunidade), é preciso diferenciar a vida para bem da comunidade como instituição da vida para bem da comunidade enquanto grupo. Se na política temos o exemplo das ditaduras, tanto de esquerda como de direita, da anarquia e da visão orwelliana de "Mil novecentos e oitenta e quatro", na religião também temos os dois caminhos. Em qual estamos?
Será que querem que acreditemos e que façamos o nosso papel para bem da Igreja, mesmo que vivamos na ignorância, mesmo que passemos a vida inteira a sustentar um gigante que outros controlam em nome daquilo a que chamam "bem comum" e nos sintamos felizes com isso? Ou será que querem que sejamos parte activa (e minimamente autocéfala) da tal Igreja, sempre a trabalhar na direcção ao "bem comum" que Cristo pregou, e que passa pela felicidade de todos e pelo respeito à especifidade de cada um? Será que eu sou o mesmo para Deus, quer faça as coisas por obrigação ou as faça porque sei que vou beneficiar a comunidade com isso? Será que só o resultado do meu esforço interessa?
As utopias, meus senhores, não se implementam obrigando as pessoas, reprimindo os seus interesses ou limitando as suas liberdades. As utopias passam por conciliar os interesses de todos, encontrar o equilíbrio, descobrir a fórmula mágica para o bem comum. E é isso que as torna difíceis...

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